segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Para Minha Irmã (2001) - Direção: Catherine Breillat



Volúpia represada 

Catherine teve a idéia do filme quando encontrou, à beira de uma piscina, uma gordinha como Anaïs. A menina nadava de um lado a outro, e se abraçava nos corrimãos das escadas como se namorasse um homem. A cena se repete no filme e ilustra de forma inteligente a volúpia represada da personagem. Segundo a diretora, esse é o retrato da própria adolescência, sexualmente afoita, que não quer mais ser uma criança, mas ainda não pode seguir as regras do mundo adulto. O filme expõe a complexidade do conflito, ao apresentar uma Anaïs sem moralismo, com dignidade. Já o lado crítico da diretora aflora na outra ponta, quando exercita a ironia ao tratar das dúvidas da irmã. O magnetizante diálogo que antecede o sexo entre Fernando e Elena, quando o rapaz gasta longos minutos para convencê-la a se entregar, é emblemático. Ao explicar o relacionamento, Catherine pega mais pesado na questão da virgindade: Existe tanta culpa associada ao fato de querer transar, que a menina exige do parceiro palavras de amor, mesmo que ele esteja mentindo. Na verdade, ela pede que ele minta. Essa necessidade do mito do amor é um estupro psicológico. Existe certa luz no pensamento da francesa. E se algumas passagens de Para minha irmã! sugerem perversidade - como quando Anaïs se esbalda com um bastão de marshmallow, símbolo fálico proposital -, o discurso geral é de uma polêmica libertária. O grande problema do filme é o final. O caso de Elena é bem resolvido. A diretora, porém, cria uma armadilha ao propor mais questões para Anaïs do que o seu roteiro é capaz de responder. Assim, o impacto derradeiro parece mais uma solução improvisada do que realmente elaborada. Acontece que esse final já havia sido pensado desde o início. Surgiu, inclusive, quando Catherine folheava o caderno policial de um jornal, naquele mesmo momento em que viu a menina na piscina. Talvez seja o momento mais frágil de um filme muito bem controlado. 

 Marcelo Hessel (Omelete)

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