segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Homem Que Não Estava Lá (2001) - Direção: Ethan Coen, Joel Coen


Mero barbeiro 

As divertidas anormalidades ficam aparentes já num primeiro contato. Triunfante, Billy Bob Thornton empresta suas feições sóbrias e sua voz rouca ao personagem Ed Crane, um barbeiro. Casado com a infiel Doris (Frances McDormand, esposa de Joel Coen) e empregado na barbearia do cunhado Frank (Michael Badalucco), Crane faz de tudo para se manter uma incógnita - como diz o título da película, a omissão em pessoa. "Não sou sequer um barbeiro, eu só trabalho lá", repete Crane. Tudo muda quando um empresário malandro, Creighton Tolliver (Jon Polito), ocupa uma cadeira no salão. "Essa técnica que estou criando, a lavagem a seco, vai revolucionar o mundo, garoto", proclama Tolliver. "Só preciso que alguém me financie com uma quantia de dez mil dólares", completa o empresário. Crane se interessa. Planeja enriquecer, se tornar mais do que um mero aparador de cabelos. Assim, não pensa duas vezes antes de chantagear o amante da esposa, Big Dave (James Gandolfini, da série "Família Soprano"). Consegue então a dinheirama. Crane se imagina o senhor da situação, onisciente, poderoso, como um legítimo personagem do gênero. Mas a sombra da noite e a névoa da madrugada reservam surpresas, e as consequências da sua extorsão serão amplas e catastróficas. Os irmãos Coen conseguem uma proeza. Mantêm o mistério como pilar da história - e a transformam na sátira mais deliciosa. Mas nem só em risos se sustenta o filme. Fascina o tratamento reservado à fotografia em preto-e-branco. Parecem existir milhares de tonalidades entre os dois opostos da cor. De maneira coerente, "O Homem Que Não Estava Lá" concorre ao Oscar 2002 de Melhor Fotografia. Mesmo assim, merecia mais. No Festival de Cannes, em 2001, o filme foi indicado à Palma de Ouro, conquistada pelo drama "O Quarto do Filho" ("La Stanza del Figlio", de Nanni Moretti, 2001). Na mesma premiação, Joel Coen dividiu o troféu de Melhor Diretor com David Lynch e o seu "Mulholland Dr." (2001). Na França, fez-se a maior justiça. No Oscar, porém, os Coen são os homens que deveriam estar lá. 

Marcelo Hessel (Omelete)

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