Em A Garota de Lugar Nenhum, Jean-Claude Brisseau se afasta do erotismo que sempre esteve intimamente costurado à confecção de seu cinema. Lá pelo meio do filme, um personagem secundário cita Platão ao afirmar que a idade traz serenidade para compensar a falta do desejo carnal. E o diretor parece mais sereno mesmo. O jogo de sedução existe, mas é muito maior do que apenas sexo (ou amor, como se queira). O embate de gerações, os discursos complementares, o “casamento” de almas levam o protagonista a enxergar na visitante uma alimento para sua essência, uma resposta para suas angústias, uma herdeira para seus questionamentos. Deviliers investe das mais variadas formas sobre Dora, enquanto ela se mantém distante, resguardada. Seu mistério se torna irresistível para o protagonista. Mas não apenas isso. O professor, outrora resistente a qualquer religiosidade, enxerga Dora como seu instrumento de salvação. A chegada da jovem, que afirma ter visões e prever o futuro, coincide com o surgimento de sons estranhos e a aparição de fantasmas no apartamento. Esse ambiente metafísico parece convencer o protagonista da iminência da morte, mas é um cenário para que o cineasta filosofe sobre cumplicidade e liberdade. Afinal, o que pode ser mais libertário do que conversar com fantasmas na sala do apartamento. Essa liberdade com que Brisseau conduz a narrativa é semelhante á liberdade que o professor procura em Dora. É a liberdade de se sentir vivo, na arte ou no amor.
(Filmes do Chico)
(Filmes do Chico)
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