terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A Espuma dos Dias (2013) - Direção: Michel Gondry



Adaptado do romance de Boris Vian, A Espuma dos Dias conta a história de Colin, um jovem que tem a sorte de ser rico o suficiente para não precisar trabalhar, e que um dia conhece Chloé em uma festa, rapidamente se apaixona e se casa com ela. Porém, já na lua de mel, a moça desenvolve uma rara doença: uma flor de lótus cresce em seu pulmão direito e para matá-la é preciso que Chloé se cerque o tempo todo de flores frescas. É a história de uma tragédia anunciada. Gondry faz um bom trabalho em indicar isso ao espectador, desde o início temos a sensação de que Chloé está condenada e o que vamos ver é sua morte lenta. O que é inesperado e funciona como elemento mais surpreendente do filme é que não vemos apenas a morte da personagem, mas a decomposição de tudo a sua volta, a destruição de um universo, quase como um sonho que vai aos poucos se transformando em pesadelo. A atmosfera de sonho é algo caro ao diretor e ele transforma A Espuma dos Dias em seu playground particular. As geringonças estranhas que compõem o universo de Vian aparecem aqui em destaque e com detalhes, toda uma sequência é dedicada ao funcionamento do pianococktail. Esse cuidado na ambientação poderia ser útil: um universo maravilhoso em oposição à decadência que acompanha a doença e Chloé, o problema é que o que sobra em cuidado visual falta no tratamento sentimental, e o universo fantástico torna-se estéril. A história é contada de maneira apressada e o filme perde tempo em sequências que não acrescentam nada, exceto uma “estranheza descolada nonsense”, como o casamento dos protagonistas. O ritmo atrapalha a conexão emocional entre o espectador e os personagens apresentados, não há tempo para conhecê-los, conviver com eles e assim envolver-se. O que fica é uma tragédia contada, mas não vivida. Talvez, quando trabalha com roteiros que não são seus (como em Brilho Eterno) ou baixo orçamento (Sonhando Acordado), Gondry se veja forçado a colocar os pés no chão. Mas sendo roteirista e diretor e com um orçamento razoavelmente alto o cineasta perde o lastro e toda sua estranheza que poderia ser incômoda acaba não servindo a nada. Se o foco estivesse na história dos dois personagens e seu envolvimento, se tivéssemos tempo de acompanhar sua vida e sua intimidade, A Espuma dos Dias poderia ser um filme devastador e dolorido, mas não é. O que sobra é um sonho, fantástico e sem sentido, do tipo que se esquece na manhã seguinte.

 Isadora Sinay (Posfácio)

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